domingo, 16 de outubro de 2011


A ADAPTAÇÃO À NOVA ESCOLA E À NOVA VIDA

No Colégio São José estudava a elite da cidade e, naquela época, principalmente nas cidades do interior, as diferenças sociais eram maiores ou, pelo menos, apareciam mais. Chegar, de uma sociedade de costumes simples, rural e se integrar numa sociedade urbana e conviver com colegas com grande poder aquisitivo, não era uma tarefa muito fácil, mas minha irmã e eu fomos conseguindo o respeito da turma pelo estudo. Aprendíamos com facilidade e muitas vezes as colegas ricas, vinham se socorrer conosco, quando não entendiam algum conteúdo.
Havia, porém, colegas como a gente, filhas de gente humilde e que, como nós, estavam nesta Escola. Com a maioria destas fizemos grandes amizades. Algumas ainda se conservam até hoje, mais de 50 anos depois.
Tinha muita facilidade em Matemática e, por isso, logo me tornei professora particular de muitas colegas, que tinham dificuldade com a matéria. Com isto ganhava um dinheirinho, que ajudava a comprar as coisas de que necessitava.
Tive uma professora de Matemática, que jamais esquecerei. Era a irmã Dulcina. Era alta, de porte elegante e a turma contava histórias, de que pertenceria a uma rica família e que largou tudo para ser freira, provavelmente por causa de alguma desilusão. Nunca fiquei sabendo se esta história era verdadeira, assim como outras que inventavam sobre outras freiras, nossas mestras.
A professora de latim era a irmã Rosa Cândida que foi apelidada pela turma de “Silepse”; a de francês era  a irmã Claire de Jesus, que fazia questão que a gente pronunciasse seu nome na língua que lecionava. Havia também as professoras leigas como a dona Nice Schiller, que nos dava Filosofia e a dona Helly Campos que era encarregada das didáticas. Aliás, foi com ela, que eu consegui compreender o significado verdadeiro das frações.
Aproveitei também este período para fazer cursos como o de datilografia que me ajudou muito durante toda a vida. Primeiro porque, quando o professor permitia, eu entregava o trabalho datilografado, porque sempre tive uma letra horrível. Depois, como professora, para datilografar as provas dos alunos e, mais tarde, para lidar com o teclado do computador. Fiz também o curso de corte e costura, juntamente com minha irmã Maria. Este também foi muito útil. Durante muito tempo, fizemos nossas próprias roupas. 
Na escola participei de grupo de teatro, clube de francês e todas estas experiências foram muito importantes na minha vida.

Um comentário:

  1. Marina,
    Estas histórias são muito interessantes não só pelo seu valor como depoimento, como também pelo bem-estar pessoal que certamente proporcionam, afinal, como se costuma dizer, recordar é viver novamente.
    Quanto ao trabalho datilografado servir como substituto à letra ruim, isto é atualmente exemplificado no caso dos portadores da síndrome de Down, que sofrem com a má letra e que, com o uso do computador conseguem inserção social sem que sintam envergonhados.

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