quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Meus Professores na UFRGS

Tive muitos professores na UFRGS, todos me transmitiram algum tipo de ensinamento. Por alguns tive e ainda tenho grande admiração, por outros nem tanto. Como era um período ditatorial, de modo geral, eles eram bastante contidos, mas dava para perceber os que eram contra aquele estado de coisas e os que estavam conformes com a ditadura.
               Leônidas Xausa, acho que posso dizer,  era o meu professor predileto. Com ele aprendi muitas coisas. Suas aulas e os livros que indicava, esclareciam muitas coisas, em relação ao momento que vivíamos no Brasil. Acabou sendo cassado e afastado da UFRGS, conforme já me referi em outro registro. Xausa e José Giusti Tavares foram nossos professores de política; Edgar Irio Simm, de Economia; Cayobi de Oliveira, de Matemática; Laudelino Teixeira de Medeiros de Sociologia; Jorge Alberto Furtado, também de Sociologia; Dirce Brasil Ferrari, uma das disciplinas pedagógicas Os de antropologia eram Pedro Ignácio Schmitz (antropologia física) e Sérgio Alves Teixeira. Os de Estatística, José Carlos Grijó e Herbert Guarini Calhau; Geografia Humana,  Rafael Kopstein; Psicologia Social, Nilo Maciel; História, Francisco Machado Carrion, com o qual tivemos pouquíssimas aulas, já que era normalmente substituído por seu assistente, do qual não recordo o nome.
            Estes foram os professores dos quais lembrei o nome, com ajuda de dois colegas, Anita e Raimundo. Os demais, não consegui lembrar.
            A professora Dirce Brasil Ferrari, no ano de 1969, logo após eu ter terminado o Curso, me convidou para trabalhar com ela no Colégio de Aplicação. Como estava grávida da minha primeira filha e morando em Canoas, achei que seria difícil aceitar por exigir o cumprimento de horário integral. Fiquei muito feliz com o convite e, até hoje, não sei se tomei a melhor decisão. Mas na vida, temos que fazer escolhas e cada uma delas, representa uma renúncia.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Centro Acadêmico Franklin Delano Roosevelt

CENTRO ACADÊMICO FRANKLIN DELANO ROOSEVELT
Em 1965, quando comecei meus estudos universitários, o Centro Acadêmico Franklin Delano Roosevelt (CAFDR), entidade que congregava todos os alunos dos diversos curso da Faculdade de Filosofia, dividia o espaço com o Bar da Filô ou Bar do Antônio. Apesar da pesquisa que fiz, não descobri a causa de nosso Centro Acadêmico ter o nome de um ex-presidente dos Estados Unidos.
Naqueles tempos, os “anos de chumbo”, havia uma grande efervescência política na UFRGS. O CAFDR era o local de reuniões “altamente subversivas” do Conselho de Representantes, dos diversos cursos da Faculdade, com eventuais visitas de dirigentes da União Nacional de Estudantes (UNE). Tudo era devidamente vigiado pela polícia política, o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Mais tarde, os participantes das reuniões tiveram provas de que as reuniões eram realmente monitoradas.
Líderes como José Loguércio, Clovis Paim Grivot, Raul Pont, Flávio Koutzii, Renato de Oliveira, Pilla Vares comandavam aquelas assembleias, conscientes dos riscos que corriam; infiltrados entre eles os “ratos”, agentes a serviço do DOPS. Alguns destes líderes, conheci pessoalmente na ocasião, como Clóvis Paim Grivot, que foi presidente do CAFDR neste período, outros como Raul Pont, Flávio Koutzik e Pilla Vares, conheci mais tarde, na militância política.
Flávio Koutzi era o presidente do CAFDR, em abril de 1964 e foi cassado pelos militares. Isto eu só fui saber muito mais tarde, porque neste ano não estava na Faculdade e, quando lá cheguei, estes assuntos, de modo geral, não eram comentados.
Apesar de minha história de participação na política estudantil, durante a etapa anterior de estudos, não fiz parte de nenhuma diretoria do Centro Acadêmico, apesar de acompanhar seu trabalho com muito interesse. Em 1965, comecei também a trabalhar como professora e esta foi a principal razão de eu não ter continuado minha militância na política estudantil. Havia também os problemas da conjuntura em que vivíamos, um período de perseguição aos movimentos sociais, entre eles o movimento estudantil.

Prédio onde funcionava a Faculdade de Filosofia

Este era o prédio onde funcionavam os diversos cursos da Faculdade de Filosofia

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Protesto de Estudantes

Esta foto, publicada no Correio do Povo, mostra um dos tantos protestos dos estudantes no saguão da antiga Faculdade de Filosofia

A Faculdade de Filosofia da UFRGS


Em 1965, quando me tornei aluna da UFRGS, a Faculdade de Filosofia, criada em 1943, englobava uma dúzia de cursos. Da Física ao Jornalismo, da Química e Matemática à História e Ciência Sociais, criada em 1959, que era o meu curso.
O prédio da Faculdade ficava ao lado do da Reitoria e, no mesmo quarteirão, ficava o Colégio de Aplicação, onde todos os que optavam pela Licenciatura, cursavam as Didáticas. Ainda não havia acontecido a Reforma Universitária dos militares, que desmembrou a FF, sem deixar-lhe sequer o nome, além de terminar literalmente com as turmas.
Iniciei meu curso, um ano depois do golpe de estado de 1964. Vivíamos pois, tempos difíceis. Foi a época dos “alunos” e “professores” espiões, os chamados “dedo duros” que se infiltravam nas turmas para fornecerem informações para os órgãos de repressão. Desconfiávamos até, que também estavam infiltrados em nossa turma. Eram tempos de receio e vigilância.
Novas palavras foram fazendo parte de nosso vocabulário como: cassação, expurgo, aposentadoria compulsória, exílio e outras tantas, que não quero recordar.
A diversidade e a pluralidade da Filosofia faziam com que ela fosse o centro nervoso do movimento estudantil e, por isso, era tratada pelos defensores do autoritarismo, como o local que concentrava o maior número de “subversivos” por metro quadrado.
Houve muitas cassações entre os professores da Filosofia, entre eles, nosso professor Leônidas Xausa, que nos dava aulas de Política e foi cassado em 1969, no 2º ciclo repressivo, pós Ato Institucional número 5, de dezembro de 1968.
Com todo o controle e repressão, poucos de nós continuaram resistindo. A maioria emudeceu e passou a constituir, o que mais tarde foi definida, como a “geração amordaçada”.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Prédio da Reitoria

O prédio da Reitoria na minha época de universitária. Á direita, parte do prédio onde funcionava a velha Faculdade de Filosofia.

Como me tornei aluna da UFRGS

No início do ano de  1965, fiz vestibular para Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Na verdade, ganhei um grande estímulo de meu irmão Homero, que me convidou para morar com ele, para fazer a faculdade.
No ano anterior,  terminei o curso Normal em julho e passei o segundo semestre, em Santa Fé, na República Argentina, contemplada que fui, com uma Bolsa de Estudos, oferecida por uma família de lá. Voltei em dezembro para Montenegro e Homero insistiu para que eu prestasse o Vestibular. Não tinha muita esperança de passar, porque não me sentia  preparada  o suficiente. Não havia sobrado muito  tempo para estudar, mas fui fazer as provas. 
Para minha alegria e do meu irmão, passei. Naquela época não havia internet e foi na portaria da velha Faculdade de Filosofia, que fui consultar a lista dos aprovados e meu nome estava lá. Sabia que iria ter dificuldade para me manter na Faculdade, já que ainda não tinha emprego e meus pais já tinham feito o que podiam, custeando meus estudos, até o Curso Normal.
Começar a frequentar as aulas na UFRGS, foi um momento de muita emoção para mim. No início me sentia meio desambientada, por ter vindo de uma cidade pequena e de uma Escola Normal, cujo objetivo não era nos preparar para prestar Vestibular. Tive, pois, algumas dificuldades. Apesar disto,  consegui aprovação em todas as cadeiras, durante todo o curso.
Conhecer meus colegas de turma, foi uma grata surpresa. Falo “turma” porque iniciei meu curso em 1965, quando a gente não se inscrevia por disciplina. O normal era se inscrever em todas as disciplinas oferecidas à  turma, que funcionava todas as tardes. A maioria de nós continuou junto até o fim do curso, como era habitual naquela época. É claro que amizade, fiz com um pequeno grupo, com os quais me identifiquei desde o início: o Raimundo, a Ruth, a Marisa, o Geraldo. Estes eram os “mais chegados”, mas havia a Suzana, a Ilse, a Berlindes, a Valquíria, a Anita, a Sara e outros colegas, que no momento, não recordo os nomes.
Raimundo era meu companheiro permanente do Restaurante Universitário (RU). Raramente não almoçávamos ou jantávamos juntos. Após o almoço ou a janta eram as longas conversas e, às vezes, estudos, que muitas vezes, aconteciam no Parque da Redenção onde nós, aos finais de semana, nos sentávamos sob as árvores a estudar ou a conversar, por horas a fio.
Quando jantávamos juntos, voltávamos para casa a pé pela Osvaldo Aranha. Raimundo me acompanhava até em casa, que ficava na Rua Silva Só e retornava para a dele, que ficava na Felipe Camarão. Porto Alegre era uma cidade tranquila. Não tínhamos preocupação com a segurança.
Não lembro nunca de ter nos faltado assunto. Conversávamos muito, sobre os mais diversos temas. Éramos muito companheiros.
Depois do Raimundo, minhas melhores amigas eram a Ruth e a Marisa; também estudávamos e passeávamos juntas, mas raramente elas almoçavam conosco. Ambas eram professoras e seus horários dificultavam um pouco nossos encontros.
Tenho ótimas lembranças daquele tempo. Foi uma pena que a vida nos separou. Nossa turma nunca organizou aqueles encontros, que a maioria das turmas faz, de tempos em tempos.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Com minha colega Rosemary

Foto tirada na beira da praia, com a colega Rosemary, no verão 1960/61, quando conheci o mar.

Quando conheci o mar

Nascida em uma família de poucas posses, não conheci o mar quando criança. Fui conhecê-lo bem mais tarde, no verão 1960/1961, quando jovem.
Minha estréia na praia de mar, se deu através da colega e amiga Judith, recentemente falecida. Seus pais tinham casa em Tramandaí e resolveram me presentear com uma temporada na sua companhia.
Quando recebi o convite senti um misto de alegria e ansiedade. Finalmente iria conhecer o litoral gaúcho, do qual ouvia muitas bonitas histórias.
Foi uma experiência muito significativa.  Ver aquela imensidão azul, poder passear pelas areias da praia, entrar na água, mesmo fria, foi muito bom. Foi nesta ocasião que começou meu amor por Tramandaí. Sempre que me era possível, retornava a esta praia, onde hoje passo o verão, depois que conseguimos adquirir um apartamento, nesta cidade litorânea, que é nosso refúgio nos dias de calor.