quarta-feira, 31 de agosto de 2011


MINHA PRIMEIRA EXPERIÊNCIA COMO PROFESSORA

Numa escola rural chamada Victorina Fabre, no município de Montenegro, distante alguns quilômetros de nossa casa, concluí o 5o ano, o que significava na época, o fim da primeira etapa de estudos. Após ser aprovada, meu pai, a pedido de muitos vizinhos, que viviam naquela região isolada dos centros urbanos, procurou o prefeito de Montenegro, na época,  Sr. Germano Henke, para o qual colocou todas as dificuldades que a população da região, que na época constituía o 4º Distrito do município, tinha para colocar seus filhos na Escola.
Solicitou a criação de uma, para atender aquela comunidade, falando de minha disposição de lecionar já que havia concluído o 5º ano, condição necessária, à época, para se lecionar nas escolas rurais. Como não havia  prédio para que a Escola pudesse funcionar, meu pai se propôs a construir  um, na nossa propriedade, onde eu pudesse  atender a tantas crianças que não tinham onde estudar. O prefeito autorizou e meu pai mandou construir uma escolinha de madeira, no pátio de nossa casa; a Prefeitura forneceu as “carteiras” para os alunos, cadernos de chamada, livros de atas e outros materiais necessários  e, assim, foi possível iniciar as aulas. Foi uma grande festa na vizinhança, que comemorou a conquista  de poder “dar estudo” para seus filhos.
Apesar de saber tão pouco, alfabetizei muitas crianças e jovens; atendia alunos do  primeiro até o  quarto ano, todos juntos, na mesma sala, prática muito comum nas escolas rurais da época e, ainda hoje, em algumas localidades mais isoladas. A alegria que eu sentia, principalmente quando um aluno aprendia a ler, era inexplicável. A sensação era de que havia tirado alguém da escuridão. É claro que, por ser tão  jovem e inexperiente, eu tinha muitos medos que, aos poucos, foram sendo vencidos pela convivência com meus alunos.
Alguns  já vinham de casa alfabetizados pelos pais, prática comum naquele lugar, longe de tudo, com estradas ruins e transporte feito, principalmente, com carroças puxadas por bois ou cavalos; eu mesma vivi esta experiência pois fui alfabetizada pela minha mãe, com a ajuda do meu pai e, quando fui para a escola, já iniciei no terceiro ano. Para os que já sabiam ler, ensinava o que aprendi.
 A escola recebeu o  nome de Escola Municipal “Evaristo da Veiga” e nela lecionei por um período de pouco mais de 2 anos quando, com o apoio de meus pais, fui com minha irmã, para a cidade de Montenegro, prosseguir meus estudos, onde mais tarde concluí o Curso Normal.
Naquela escolinha, longe de tudo, mesmo sem ter nenhum conhecimento didático, consegui alfabetizar diversas crianças e ensinar o que sabia a outras tantas; tudo era feito na base do bom senso e naquilo que aprendi com minhas duas primeiras professoras. Guardo ainda na lembrança alguns alunos, deste tempo distante. Quando hoje,  por acaso, encontro um deles, vivemos  momentos de grande emoção. Foi um período muito importante para mim. Trouxe-me, além de muitas alegrias, uma grande experiência que me ajudou muito na profissão e vida futuras.

Marina Lima Leal
Lembranças – escrito em 2009

4 comentários:

  1. Puxa, que lindo... e eu não sabia disso...
    Lembrei agora do seu Adil (nunca vou esquecer do seu Adil), na única experiência que tive com alfabetização na vida: era um senhor de seus 60 anos, acredito eu, analfabeto. eu lecionava na escola Ceará, no noturno, EJA. Ele tinha um problema sério: evoluía muito a cada aula, mas no final de cada noite, esquecia tudo que tinha aprendido na noite anterior. Isso aconteceu por anos, com várias professoras. Mas ele persistia, queria muito aprender a ler e escrever.
    Bom, começamos todo processo de alfabetização de novo e um dia ele chegou na escola eufórico para me contar que havia encontrado um endereço sozinho na cidade de Esteio, pois conseguiu ler na placa: R-U-A B-R-A-S-I-L. Lembro que ele relatou ter tido dificuldade com o BR, mas como tinha conseguido ler o resto, adivinhou o nome da rua...Foi emocionante...Inesquecível!!!!!!!

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  2. Que legal, Paty. Eu também não sabia desta tua vivência

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  3. Tua alegria quando conseguia alfabetizar é o momento mais expressivo e emocionante da tarefa de ensinar. Quando fui professor no Piauí, em um local onde também as dificuldades eram imensas, a maioria dos alunos vinha de extratos sociais mais baixos, e, obviamente, não podia comprar livro algum. Mas era impressionante o brilho no seu olhar e a vontade de alcançar um grau universitário para finalmente poder melhorar de vida.

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  4. Não sabia que tinhas tido uma experiência como professor. É realmente uma profissão que traz muitas alegrias

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