sábado, 14 de janeiro de 2012

Retornando a Montenegro - minha juventude

LAZER E ENTRETENIMENTO

     Os jovens do final da década de 1950 e início de 1960, numa cidade pequena como era Montenegro, tinham algumas formas de lazer e entretenimento. Ir ao cinema era uma das minhas formas prediletas. Havia na cidade, dois cinemas: o Goio-En, que ficava no prédio do Clube Riograndense e o Tanópolis, na Rua Ramiro Barcelos, onde permanece até hoje, mas com dimensões muito menores. O último filme exibido no Tanópolis, antes da reforma foi “A História sem fim”, uma co-produção alemã e norte americana, do gênero fantasia, para o qual foram convidadas as escolas, que levaram os alunos para assistirem. Meu genro Paulo César era um destes alunos. As duas salas eram grandes, como os cinemas  existentes naquela época, porque muita gente gostava de  assistir aos filmes. Sobre o Cine Tanóplis, outra curiosidade: O prédio foi construído no local onde funcionava o antigo Cinema Pathé.
            No dia da inauguração do novo cinema, 29 de janeiro de 1957, "a fita simbólica e a porta principal do prédio foram abertas pela Senhora Octavina Decusati, em homenagem a um dos antigos proprietários". Octavina era, na época da inauguração, viúva do proprietário Luciano Decusati. O casal Octavina e Luciano eram avós de minha cunhada Ivete. 
O Serviço Social da Indústria (SESI) costumava  passar películas em algumas ruas da cidade, o que significava uma festa para mim e meus irmãos, além de alguns componentes de nossa turma, porque um destes locais, era a minha rua.
     Os bailes eram também muito apreciados pela juventude da época. Em Montenegro, havia diversos clubes: o Riograndense, considerado como o clube da elite, o Clube do Comércio, do qual meu irmão Omar se tornou sócio e minha irmã Maria e eu, suas dependentes, era o clube de classe média e o que mais frequentávamos; o Operário que era frequentado principalmente pelos trabalhadores da indústria e construção civil;o Grêmio Gaúcho, que ficava no bairro Timbaúva, frequentado por diversos segmentos sociais, inclusive pessoas que vinham da zona rural; o Clube Floresta Aurora,  considerado o clube dos negros. Pela classificação dos Clubes, se pode   perceber o nível de divisões e preconceitos existentes, principalmente numa cidade pequena, naquele período.
     Como Montenegro é uma cidade de colonização alemã, havia ainda muitos “Salões de Baile” nos diversos distritos do município, que faziam os famosos “Kerbs”, com bailes e festas que, muitas vezes, se prolongavam por três dias, em que os colonos ofereciam comidas  e bebidas  a seus convidados e, à noite, aconteciam os bailes, prestigiados pelos moradores locais e os da cidade, que compareciam em grande número.
     O Caí, que banha Montenegro, possuía dois locais de lazer, onde os jovens iam tomar sol e banho de rio, nos finais de semana. Eram chamados de “Baixio Velho” e  “Baixio Novo”. A palavra Baixio, no dicionário Luft, significa banco de areia.
     Organizava-se também, passeios ao topo do Morro São João. Juntava-se um grupo de amigos e se ia subindo, por um caminho bastante íngreme, até chegar ao ponto mais alto, de onde se tinha uma vista privilegiada da cidade.
     Havia também os ”matinés”(lia-se o ê fechado) palavra de origem francesa, que quer dizer manhã, mas era usada para designar as sessões de cinema realizadas à tarde, normalmente, às 14 e às 16 horas, que eram frequentadas especialmente pelos jovens. Também se dizia “matiné-dançante”, para as reuniões dançantes, que se fazia à tarde, nos clubes, como uma forma de divertimento.
     As visitas aos amigos e aos familiares, eram uma outra forma de convivência,  distração e relacionamento.
     Aos domingos, após a missa, o passeio pela praça Rui Barbosa, era programa obrigatório. Ali se encontravam os jovens, para conversar, namorar ou simplesmente caminhar ao redor da praça ou ainda, sentar nos seus bancos.
    A leitura também era uma forma de lazer e distração e os livros eram normalmente emprestados pela biblioteca do Colégio ou da Biblioteca Pública Municipal. Lia-se também revistas, especialmente a Revista do Rádio que trazia notícias de cantoras da época, como as famosas Emilinha Borba e Marlene.
     O rádio era bastante ouvido, mas a televisão chegou bem tarde às casas de nossa turma. Os primeiros a adquirirem o aparelho, recebiam os chamados tele vizinhos, para acompanhar alguns programas.
     Na nossa escola e, com certeza em outras também, havia o costume de se organizar os chamados “Questionários”,com perguntas, normalmente de ordem pessoal, que eram passadas  para  a turma responder; se constituía numa maneira de se saber os “segredos” das colegas. Funcionava mais ou menos como uma rede social, dos tempos de internet

Um comentário:

  1. Brilhante a descrição da vida em Montenegro! Dissestes praticamente tudo o que pode ser dito sobre a vida no interior naqueles tempos. De um modo geral o panorama era o mesmo nas demais cidades do RGS, ressalvadas naturalmente a diferença de tamanho da população. Foram, sem dúvida, bons tempos que estás recperando com este depoimento memorialístico.

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